"Beckham" acusa PJ de "não olhar a meios para atingir os fins"

O segurança Fernando "Beckham" garantiu hoje, num tribunal do Porto, que nunca denunciou Bruno "Pidá" e cinco outros pronunciados pelo assassinato do empresário Aurélio Palha, acusando a Polícia Judiciária de "não olhar a meios para atingir os fins".
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Chamado a depor como testemunha de mais este processo do dossiê "Noite Branca", "Beckham" desmentiu assim o inspector-chefe da PJ Manuel Rodrigues que, em anterior sessão de julgamento, o indicou como uma "fonte anónima" de detalhes relacionados com o homicídio.

"Nunca prestei declarações nas ocasiões em que fui chamado", garantiu "Beckham", que actualmente cumpre pena de prisão por coautoria do homicídio do segurança Ilídio Correia e que considerou que as declarações do inspector-chefe puseram em causa a sua segurança.

Explicou, de resto, que após as afirmações do agente da PJ, as autoridades consideraram mais seguro transferi-lo do estabelecimento prisional de Paços de Ferreira para o de Coimbra.

"Beckham", um alegado membro do "núcleo duro" do grupo de seguranças da Ribeira do Porto, ainda chegou a ser correlacionado com a morte do empresário da noite portuense, mas o Ministério Público (MP) retirou-lhe a imputação porque, conforme se lê no processo, "o mesmo voluntariamente desistiu de prosseguir na execução do crime".

Aurélio Palha foi morto a tiro na madrugada de 27 de Agosto de 2007, no auge de uma espiral violenta envolvendo figuras ligadas à noite do Porto, quando se encontrava à porta da sua discoteca do Porto, a Chic, à conversa com o segurança Alberto Ferreira, que mais tarde também foi assassinado.

Alberto Ferreira chegou a deixar testemunhos escritos sobre o assunto, primeiro sem indicar quem teria feito os disparos e, depois, dizendo que foram da autoria de Bruno "Pidá" e Mauro Santos.

Hugo Rocha, outra testemunha chamada a depor hoje, garantiu que Alberto Ferreira só mudou a versão após receber "indicações" para o fazer.

Esta testemunha cumpre actualmente pena de prisão pela morte de Nuno Gaiato, o homicídio que terá desencadeado a espiral violenta na noite do Porto em 2007.

Ao tribunal, Hugo Rocha foi peremptório: "Ele [Alberto Ferreira] disse que não viu quem disparou porque estavam encapuzados. Depois veio com ideias novas. Disse que não viu, mas ia dizer que viu".

Segundo a testemunha, Alberto Ferreira terá dito textualmente: "Não vi, mas vou dizer que vi porque as indicações que tenho são essas".

Questionado sobre quem teria dado essas indicações, Hugo Rocha afirmou: "Ele tinha acabado de sair da PJ. Não disse quem foi em concreto".

A PJ esteve ainda na mira um dos advogados do processo, João Peres, que, num requerimento, aludiu a "fortes indícios" de inspector-chefe Manuel Rodrigues ter produzido uma "falsidade monstruosa" nas suas declarações acerca da "fonte anónima" que veio a revelar.

Pediu, por isso, que fosse remetido ao MP cópia do seu requerimento, bem como a gravação do depoimento prestado pelo inspector-chefe.

Ao final da manhã, o processo entrou em alegações finais.

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